Quem sou eu

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"... dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Uma solidão de artista e um ar sensato de cientista… tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna." Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Prece das Aspirações Pessoais



Que eu possa encontrar um ponto de sanidade no meio de tanta loucura
Que eu possa sofrer as dores da alma e do corpo e atrever-me a dizer que “nem doeu”
Que eu saiba ser feliz, tomada da mais absoluta convicção, ainda que sozinha
Que eu possa reconhecer o valor das coisas triviais e dá-lhes o merecido sentido
Que eu encontre o amparo divino fora das ilusões
Que eu possa e
ncarar o meu espelho algumas vezes na semana
Que eu admita a comicidade impagável da espécie humana
Que eu vivencie sem desespero toda tragédia cotidiana
Que eu permita ser invadida, mas nunca violada
Que eu saiba sair de cena como exercício de alteridade diária
Que eu sustente meu universo com os braços ternos da maternidade
Que eu saiba ser doce e suave sem perder a força e a vitalidade
Que eu esteja imune a conformidade
Que eu possa silenciar sem deixar de estar presente
Que eu suporte os remédios amargos e o peso da sabedoria
Por fim, depois de toda graça alcançada,
Que eu possa tirar as sandálias e curvar meu ser inteiro

Julliana Soares

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Lembranças




De repente a gente volta no tempo. Um cheiro, uma imagem, uma música, uma palavra, uma ação. São vários os meios de transporte para o passado. Hoje me lembrei de que quando tinha por volta dos oito anos de idade, eu adorava brincar sozinha entre os lençóis perfumados que minha mãe pendurava no varal no fim da tarde. Era como se eu transitasse entre diferentes dimensões em instantes. E na brincadeira de criança eu já pensava na relatividade das coisas. Suspiro profundo. A simplicidade sábia da infância deveria ser preservada. Adultos, nos tornamos graves e ser feliz dá muito mais trabalho. O crepúsculo sempre foi minha hora mágica do dia, quando em casa eu gozava plena a felicidade e o amparo da família. Descobria o mundo intrigada com os espetáculos da natureza. Agora, um pouco mais a frente na estrada, ainda fico tonta com tanta beleza irradiada. 

Julliana Soares

Eu Quero o Verbo Amar


Eu quero o verbo profano, sem nenhum adorno humano
Que vibre como um piano e embale meu verso insano.
Não tenho nada para levar.
Adormeci com ar superior, acordei no meu interior
Com a lucidez rebenta de um instante de esplendor
Não tenho nada para deixar
Eu quero amor em verso, versátil, controverso,
Que sopre em meu ouvido chamas de filosofia
Que plante em minha alma uma pequena fantasia
Até tudo acabar.

Julliana Soares

Pequeno Manual de Instrução

Meu ser não tem dimensão.
É como a tempestade no verão.
Vivo para dentro,
numa inversa direção.
Eu atropelo a mim,
ando na contramão.
Quando pondero,
perco qualquer razão.
Enquanto choro,
escrevo uma canção.
Sorriso aberto,
lágrimas na mão.
Misturo inconstância,
Com plena contradição.
Meu pé, não sente o chão,
Fecho a janela,
mas abro o portão,
Quero dizer sim,
e apresenta-se o não,
Posso ser Julieta,
ou Hilda Furacão.
Encontro o problema,
Perco a solução.
Gosto mais de frio
Mas amo o sertão.
Não quero andar sozinha,
Prefiro a multidão.
Sinto com o cérebro,
penso com o coração.

- Julliana Soares


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Nenhuma palavra

Quando a emoção sentida é maior que o alcance das palavras e todas elas são absolutamente inúteis, resta a carne viva e o coração à prova. Não posso dizer nada. E tudo que sinto vai escorrendo, escapando. Eu conto com os berros que me saem, cada linha dessa história mal acabada. E tudo cresce  quando sonho acordada. Foi tudo isso, poesia ácida que atingiu as vísceras da alma exposta. Eu estou aqui, dilacerada. Minha querida, você ainda consegue extrair vestígios desta memória apagada. Efêmera, talvez seja uma boa palavra.

sábado, 21 de abril de 2012

Olhar condicionado


Basta o outro lado da rua
Já conter a imagem tua
Para o tempo estacionar
E expor minha alma nua
Pra você se aproveitar

Ascendo um cigarro e atravesso a ponte
É nele que me agarro e escondo minha fronte
Num desconforto mais plausível
Eu disfarço o intangível
E ergo mais um monte.

Senhor, pra onde fica o horizonte?

domingo, 15 de abril de 2012

Profundamente


Que vontade de escrever pra você.

Te recordo a cada momento, por mais que eu contemple outros campos, outras flores. A paisagem refúgio/fortaleza ainda é você. De todos os abraços, sorrisos, diálogos os que se ressurgem são os seus. Hoje, veio-me a vontade mais que serena de subjetivar o passado e tornar-me outra. Posso? Até quando a imagem desse amor ideal vai esconder a realidade? Foram as manhãs de sábado, as tardes de domingo, a ‘anti-rotina’ da semana, a vida em intensidade e veracidade plena, que decidiram por mim a solidez desse afeto. As razões para esquecer já esgotaram. E me encontro em puro desequilíbrio.

Eu queria ver agora a sua face solar, ouvir suas verdades, rir do seu destempero e amar tudo em você como antes. Nem sei se amava ou se admirava descrente a beleza divina materializada. Será que era divina? A única coisa que você irradiava era dúvida. E hoje só sei duvidar desse tempo que te mantém distante. De quantos desafios será composto um encontro como o nosso? Nem penso, arrisco fácil se for pra te ver.

Que saudade de te levar nos olhos. Vontade de cravar felicidade no seu rosto e aplacar as suas dores. Só você desfaz o óbvio e produz metamorfoses. Saudade de te acordar com citações de Neruda, Vinícius, Rilke e nunca exaurir nosso repertório de autores. Desejo suplicante de conquistar cada sentido do seu corpo. Sentir o gosto da sua personalidade em mim. É tão desconcertante a tua ausência. É como se eu não estivesse em casa. Entendes? Eu sei que sim. O fato é que na vida só o amor correspondido não basta. Mas o que eu faço com o suspiro involuntário, com o arrepio automático, com o torpor enlouquecedor das lembranças? É, tá difícil. Ainda mais quando só encontro amores superficiais para tentar te substituir. Amor, sou rendida aos teus encantos. Salva-me...

"...No entanto a tua presença
é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar
uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como nódoa do passado..." V. de Moraes


sexta-feira, 6 de abril de 2012

Intuição, meu bem!

Quem conseguirá neutralizar os instintos de uma pisciana? Ainda mais assim, tão enraizados na experiência? É mesmo muita pretensão. Não existe surpresa nesse fato. O que me toma agora, já é conhecido de antes e veio em boa hora. Já começo largar no pensamento o que de válido se mantém. Eu vivo solta, sou escorregadia e esse destino vez por outra aflora.

É inegável que em cada desencontro uma verdade vai embora, e a pele torna-se o improvável ventre da memória. Mas tudo bem. Eu sei que o poder íntimo do que tem que ser é pre requisito pra qualquer história. E o passo adiante vem, pra levar meu corpo, minha cara e toda hipérbole amorosa. Uma faísca divina e o futuro sempre vigora.

Fecho os olhos, e que vazio obsoleto. Melhor ocupar o coração com a parte mais amada da vida e que, de todas as belezas, é a mais grandiosa: a relação. Essa constituinte inexorável da odisseia humana e que me fascina nas suas variadas formas.

Pra deixar bem claro, eu vou embora. Pra outro sorriso, outra descoberta e nenhum sentimento de classe inferior vai ser maior que minha vontade de brincar e aproveitar a vida. É mesmo um alívio quando a frase salta e pra cada dor uma palavra brota. O que você sabe? Tudo, a seu respeito. E absolutamente nada, dessa pessoa inacabada que sou e que prefere os delírios inesperados aos desenganos previstos.

"Quem me dera encontrar o verso puro. O verso alívio e forte, estranho e duro. Que dissesse a chorar isto que sinto." _ Florbela Espanca


domingo, 1 de abril de 2012

Pela noite fria de uma cidade deliciosa, que envolve com charme e ar intelectual. Onde as pessoas conversam sobre Kafka e se fascinam parafraseando aforismos de liberdade. Agradável, mista e receptiva, tem nos sorrisos o calor familiar do nordeste. É como estar em casa à quilômetros de distância... Doce e quente. É isso meu bem, Curitiba mostrou-se intensa. Um cenário para encontros. Neste momento, uma celebração da arte e da beleza.

PS.: O espetáculo foi lindo, a casa estava cheia e os olhos brilhavam validando as palmas.

quinta-feira, 15 de março de 2012


As vezes perco as rédeas da minha liberdade utópica.

Eu luto contra um desejo maior do que eu mesma. Na dúvida fico sempre na posse. A vida vem repleta de provocações e me apanho rindo delas. Um bicho de sete cabeças, um pingo d'água. As vezes o óbvio, as vezes a complexidade. Besteira. Mania de ocidental que fica pensando na vida e esquece o relevante. Será? Pois é, a dúvida, mestra de toda essa angústia dizendo que há algo muito maior lá fora.

Costumo ouvir a mim mesma, é a cabeça que pensa e o corpo que sente. A defesa que avisa, o ego que grita, o risco que excita. Não tem nexo, nem caminho trilhado. Nada. Entendeu? Sou eu. Assim, toda revirada como um quarto de criança.

Eu percebo minha fantasia autoritária na história. Vou esculpindo o que eu quero. Contudo fico entediada. Pura contradição reinante, dicotomia existencial.

Senta. Beba um gole, me entorpeça e me destrone. Nada mais edificante que perder o chão. Eu não gosto de brinquedos previsíveis. Eu gosto de gente e gente não tem manual. Quero uma mistura explosiva de subjetividade com dinamicidade estrutural. Pronto. E onde fica a poesia? Talvez nos olhos de fora. Do outro lado da rua ou no tempo indelével. A poesia é independente, não vou pensar nela. Penso no mistério. É nele que eu me perco, é nele que amanheço todos os dias da minha vida. A minha alma, voa e retorna de mãos vazias. Nenhum sentido encontrado. Mas a beleza me consola. Enfim, é só constatação, não tem resposta.

domingo, 4 de março de 2012

Íntima beleza

Que pessoa inacreditável, um ser que introduz a dúvida entre o real e a fantasia. Desperta sensações, desafia e atrai com sua verdade incontida. Tem toda a contradição do sexo. E que delicadeza incompreensível!

É uma mulher apenas. Onde habita infinitos universos. Uma mulher que as vezes chora e uma menina que as vezes rir. E que vive distribuindo encantos, despertando amores. Que é mulher, porque é intensa, exagerada e facilmente impressionável. Tem os braços fantasiados de porto seguro e os olhos sedutores de um final de tarde. É mesmo uma apologia explícita da beleza. Linda! Linda! Murmuro isso na cabeça enquanto contemplo o âmago da tua natureza. Um labirinto, talvez, sem saída. Toda mulher é no fundo uma despedida. Eu vou pra fora de mim. Eu procuro o caminho_ nas preferências, nas ideologias, na história de vida_ que me fará entrar em ti e ficar. Perder a chave e nunca mais sair. Habitar teu corpo, tua vida e, de vez em quando, esquecer de mim.

É isso. Um sem fim de impressões, de sensações, de desejos. Mas ainda um tanto intangível. E pode ser tudo metáfora, delírio. Elementos comuns numa pessoa volúvel. Não sei querida, se tanta grandeza e legitimidade no ser me deixou descrente, ou se ando negando o óbvio.

Mas não me preocupo, não me assusto. Essa estranheza que toma conta de mim, que faz eclodir atitudes desconhecidas, são reflexos de um mistério profundo e de completa incerteza. O que eu faço? Preciso fazer alguma coisa? Ou posso apenas admirar, tatear sua beleza? E encontrar depois o nome ou inventar um substantivo concreto que defina bem isso. Sei lá. É tanta coisa possível. Inclusive a negação inconsciente de que ‘isso’ deve se expandir, ganhar asas e evoluir. Um risco que tá me custando uma lacuna na minha previsão do futuro. É isso. Não sei se vai vingar. Talvez você nada entenda. Compreender uma mensagem através de linhas escritas de uma mulher para outra, é labor para um Deus. Mas fica, acima de tudo, meu elogio verdadeiro e minha cara pasma “diante da visão da infinita beleza” - C. V.


"...pois o belo, não é senão, o princípio do espanto, que mal conseguimos suportar. E ainda assim o admiramos, pois sereno, deixa de nos destruir." Rainer Maria Rilke

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Das primeiras impressões

Por traz de toda brincadeira, eu confesso uma verdade, ainda que passageira...
E com a loucura aparente desta cara, que não consegue ser decifrada, eu coloco minha vida na tua palma. Mas calma, ainda não é nada!
Agora as flores bastam. Sacia-me o incerto e duvidoso desejo.
A brincadeira perigosa vai me tomando por dentro. E uma contradição vigora.
Agora eu respeito esse tempo e tua presença nele. Foi assim que aprendi e ultimamente tenho seguido regras. Embora eu sinta que nenhuma delas me trará teus braços singulares. Tua vida, que escrevo nesta palma, ainda não pode ser lida, nem contada. Quero no entanto segurá-la pelo incerto, pelo efêmero inevitável dos dias. E perceber como apenas as características primitivas do amor já bastam, para acalmar um coração hiperativo.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Receita de momentos


Para os momentos sublimes da vida: 9º sinfonia de Beethoven
Para os momentos tristes da vida: um cantinho pra chorar
Para os momentos trágicos da vida: fé no que quer que seja
Para os momentos engraçados da vida: um amigo pra compartilhar
Para os momentos absurdos da vida: um pouco de lucidez e coragem
Para os momentos de cansaço na vida: a lembrança do sol que virá
Para os momentos de saudade na vida: a consciência de que Tudo é retorno. Nada é eterno.

Para os momentos de amor na vida: a capacidade de aproveitar
Para os momentos de novidade na vida: a confiança em si mesmo
Para os momentos de diversão na vida: a completa e desmedida paixão
Para os momentos de gratidão: a palavra concreta ou indireta do coração

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Folga...

Tento fugir das comodidades desse amor, enquanto reviso sentimentos arquivados.
E tudo que emerge, salta de mim como crianças na areia.
E há de se admitir que o território íntimo do ser, se mostra mais claro...
O que eu faço com isso, não me interessa.
Que tudo aconteça, que a tarde caia, que as mãos se achem.
Nós nos descobriremos, num tempo constantemente outro.
Escolhendo uma ilusão para viver, eu dou folga a minha camisa de força.
Que venha a noite e seus encantos mais primorosos!
Leve, como o invisível de tantos seres possíveis...

Para ir

Super cansada.
A vida não me engana mais.
Já levei rasteira, já fui despejada, já fui acolhida, já fui ajudada.
Já fui esquecida e reencontrada.
Conheço os dois lados da moeda e estou bem vacinada.
Ainda continuo amando, me doando e me mostrando.
Nem quero saber o fim da estrada.
Já sei que isso não vai dá em nada!
E eu preciso ir embora, porque tudo virou uma sequencia de partidas.

Inverter


Ah tá, é pra ser assim: bonequinha de sorriso estampado e cristalizado na cara. Cabelos eternamente ao vento e olhar inocente.
Desculpa se isso é ser mulher, talvez eu reinvente.
Eu admito minha força, as vezes bruta, meu sorriso deselegante e rejuvenescedor. Meu cabelo eternamente outro e meu olhar invasor.
Que se retire o seu olhar limitado e limitador
Teu problema é não morrer de amor!
Meu bem, ser mulher, nunca me preocupou...

A noite premeditada agora se iniciana sombra de uma mulher inventada.